Presidentes da Aliança do Pacífico e do Mercosul assinaram nesta terça-feira, 24, uma declaração conjunta para estreitar a integração comercial na América Latina. Apesar de a negociação prever um horizonte de conversas sobre acordo de livre comércio entre os dois blocos, o documento tem foco em questões não tarifárias.
A declaração conjunta e um plano de ação atualizado visam a redução de burocracia e facilitação de comércio, fortes demandas do setor privado.
O avanço na agenda comercial comum entre os grupos esbarra no México, anfitrião do evento, que tem atenções voltadas à negociação de um novo Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta) com os Estados Unidos.
A agenda de comércio externo com os parceiros da América do Sul poderá ser usada como estratégia para o México, que busca novos parceiros caso as negociações com os Estados Unidos emperrem.
Em conversa bilateral com o Brasil, no entanto, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, deu os sinais de que o acordo com os americanos e canadenses é a prioridade neste momento.
Contraponto aos EUA. A aproximação dos dois blocos não é nova, mas a reunião em Puerto Vallarta, no México, foi o primeiro encontro de presidentes dos dois grupos e é considerado um sinal dos países da América Latina de contraponto ao protecionismo do presidente americano, Donald Trump.
O plano de ação existente entre os dois será ampliado também para setores como mobilidade acadêmica, turismo e cultura.
Enquanto Peña Nieto conversa com a América Latina na cidade litorânea de Puerto Vallarta, o futuro presidente do México fez acenos ao americano Donald Trump.
Em uma carta de tom conciliatório ao presidente dos Estados Unidos, o presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, disse estar pronto para iniciar uma nova etapa nas relações os EUA e o México, com o objetivo de buscar um “caminho comum” em temas de conflito, como comércio, migração, desenvolvimento econômico e segurança.
“Está tudo pronto para começar um novo estágio na relação de nossas sociedades com base na cooperação e prosperidade”, disse López Obrador na carta, que foi inicialmente revelada pelo ‘The Wall Street Journal’.
O documento foi entregue a uma delegação de autoridades do governo norte-americano que visitou a Cidade do México, em 13 de julho, e se reuniu com o presidente eleito.
Brasil tenta aproximação. Em negociação bilateral, o Brasil busca chegar mais próximo de um acordo de livre comércio com o México. Atualmente, o México é a única lacuna na relação comercial com países da Aliança do Pacífico, já que se considera que há acordos de livre comércio com Chile, Peru e Colômbia, mas não com os mexicanos.
Na segunda-feira, 23, após conversa com Peña Nieto, Temer afirmou que a negociação do Nafta não prejudica as conversas com o Brasil. Mas ouviu, do presidente mexicano, que o diálogo precisa esperar agosto, quando se espera um avanço no diálogo com os Estados Unidos.
A Temer, Peña Nieto disse que a transição de governo com o novo presidente tem sido suave. As equipes de Obrador e de Peña Nieto tem trabalhado de forma conjunta na negociação com os americanos. O embaixador do Brasil no México, Maurício Lyrio, irá se encontrar com Ebrard em Puerto Vallarta.
Brasil e Chile. O Brasil tenta expandir, especialmente, os mercados agrícola, têxtil e de calçados no México. Ao atual presidente mexicano, Temer pediu especificamente o aumento da cota para exportação de frango, atualmente de 300 mil toneladas até o fim de 2019.
A previsão é de que o País alcance esse volume, contudo, no final de 2018, por isso o interesse em expandir a cota. O frango é hoje o quarto produto mais exportado do Brasil ao México, perdendo para os produtos ligados ao setor automotivo e automóveis. Em 2017, o comércio entre os dois países chegou à casa de US$ 8,5 bilhões.
“É interessante como esta providência de fazer conexão do Mercosul com a Aliança do Pacífico está dando resultados muito objetivos na relação do Brasil e os países da Aliança do Pacífico”, disse Temer, ao deixar na manhã desta terça-feira, 24, o encontro bilateral com o presidente do Chile, Sebástian Piñera.
Brasil e Chile discutem o aprofundamento das relações bilaterais em questões como convergência regulatória. Hoje, a situação dos dois países já é considerada como de livre comércio. O presidente chileno tem sido um dos principais articuladores da aproximação entre Aliança do Pacífico e Mercosul.
BRICS. Temer passa menos de 24 horas em Puerto Vallarta. Do México, segue para Johannesburgo, na África do Sul, em encontro dos líderes dos Brics, onde deve ter reuniões bilaterais com os presidentes da China e da Rússia.
O termo BRIC foi criado em 2001 pelo economista inglês Jim O’Neill para fazer referência a quatro países Brasil, Rússia, Índia e China. Em abril de 2011, foi adiciona a letra “S” em referência a entrada da África do Sul (em inglês, South Africa).
Fonte:O Estado de S.Paulo